Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social;
clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
O Butão (ou Bhutan) é um país pouco conhecido.
Não admira. Com uma área equivalente à do estado do Espírito Santo (mais do dobro
da de Sergipe), fica espremido entre dois gigantes – China e Índia. A Costa
Rica, contudo, é só um pouco maior que ele e a Holanda, menor. Em população, o
país se equipara à Região Metropolitana do Recife. E equivale ao Timor Leste e Trinidad-Tobago.
Nos últimos tempos, porém, tem aparecido no cenário internacional por haver
adotado como bússola do progresso da sociedade o conceito de “felicidade interna
bruta” (FIB). Como diz documento do governo butanês, supõe-se que “a felicidade é um objetivo fundamental
do ser humano e aspiração universal; que o PIB [produto interno bruto], por sua
natureza, não reflete esse objetivo; que padrões insustentáveis de produção e
consumo impedem o desenvolvimento durável; e que uma abordagem mais inclusiva,
equitativa e equilibrada é necessária para promover sustentabilidade,
erradicação da pobreza e alimentar o bem-estar e uma felicidade profunda”.
Independente do que se pense sobre o conceito,
o fato é de que ele foi proposto deliberadamente pelo rei do Butão em 1972 como
contraponto à busca universal de aumento do PIB. A ideia, portanto, não é nova.
Novidade é estar ela sendo agora mais conhecida. Desde 2 de abril último, o
Butão iniciou um processo junto às Nações Unidas para estender ao mundo o novo
paradigma de desenvolvimento embutido na FIB. Em press-release, o governo do país faz alusão a um decreto do rei, de
agosto passado, que cria um grupo de trabalho internacional de peritos
convocado para assessorar o país nessa empreitada, no qual se declara que “A Felicidade Interna Bruta
reflete e é produzida pela integração do desenvolvimento material, relacional e
espiritual”. O mesmo documento explica: “A experiência prática do Butão em
seguir esse caminho multidimensional do desenvolvimento social e pessoal integrado
pode contribuir e ser benéfico para outras nações e para todos os seres sencientes.”
A expectativa é de que o Grupo de Trabalho, compreendendo economistas,
cientistas, filósofos e outros profissionais, possa, com o recurso a saberes
diversos, elaborar o novo paradigma de desenvolvimento global para promover bem-estar
e felicidade como propósito global, através de políticas públicas
internacionais efetivas. O Grupo deve se alimentar das melhores práticas
existentes, de pesquisas e discursos elaborados em todo o mundo por pensadores
progressistas, visando alcançar quatro princípios-chave, a saber: bem-estar e
felicidade como objetivos e propósitos fundamentais, e sustentabilidade
ecológica, justa distribuição e uso eficiente de recursos como condições
necessárias para alcançar aquela meta. No rol das 55 pessoas, algumas muito
ilustres, que formam esse grupo, tive a honra de ver meu nome incluído. Minha própria
FIB subiu.
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