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Aves são preferidas por cores, canto e pelo valor nos mercados
interno e internacional
(Foto: Arquivo Renctas)
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As aves sempre despertaram
grande interesse nos seres humanos devido à beleza de suas cores e canto, sendo
criadas como animais de estimação pelas populações indígenas desde antes da
colonização. No Brasil, muitos animais são negociados em feiras livres, próximos
aos locais de captura ou transportados para outros municípios e países. Estudos
realizados sobre o tráfico de animais silvestres em todo o país revelaram que
as aves representam o grupo mais comercializado entre todos os animais.
As causas do
comércio ilegal de animais silvestres estão frequentemente relacionadas
em países com alta biodiversidade e desigualdade social. O Brasil se encaixa
nessa descrição, sendo um país megadiverso com alta desigualdade social em
todas as suas regiões, incluindo as principais cidades de grande porte. Para
piorar, o tráfico de animais selvagens não é tipificado na legislação penal
brasileira e ninguém pode realmente ser processado por tráfico de animais em si.
Nesse caso há aplicações de multas e o seu valor aumenta de acordo com a
quantidade de animais presos ou o seu estado de conservação. Mas, na realidade,
os promotores tendem a considerar o tráfico de animais selvagens como um crime
menor no Brasil, por isso o tempo de prisão (o que raramente acontece) é curto
e penalidades são frequentemente substituídas por outras mais suaves, como
serviços comunitários. Consequentemente, o comércio ilegal de animais
silvestres aparece como uma fonte de lucro fácil no Brasil, uma vez que há uma
demanda por esse tipo de "produto" e as autoridades não conseguem
reprimir essa atividade.
A área metropolitana de
Recife, capital do Estado de Pernambuco, é a área mais populosa do Nordeste do
Brasil, sendo uma rota conhecida do comércio ilegal de animais silvestres
no país. Moradores de Recife podem facilmente indicar locais conhecidos com
comércio de animais, e geralmente estes locais estão localizados em mercados de
rua. Embora essa atividade seja conhecida na cidade e pontos de comércio são
facilmente identificáveis, as iniciativas orientadas para quantificar e
qualificar essa atividade na região ainda são raras, resultando em uma falta de
informações sobre a real extensão e impacto desta prática.
"Algumas das espécies mais
evidentes nesse comércio foram, por exemplo, o Canário-da-terra-verdadeiro do
qual apresenta uma plumagem amarelada e um canto considerado atrativo para a
sua compra. Veja a forte cor e a
sua vocalização logo aqui: http://www.wikiaves.com.br/canario-da-terra-verdadeiro"
Apesar de ser considerado ilegal no Brasil, o comércio de aves é
bem evidente nos mercados de rua de
Recife. Os pesquisadores apontam que estas feiras de aves são verdadeiros
sumidouros da biodiversidade brasileira, pois estimaram que que até 50.000 aves selvagens
podem ser vendidas anualmente nos mercados de rua que foram pesquisados.
Outra questão importante refere-se ao número de animais que morrem
neste tipo de comércio. Não existem dados precisos sobre o número de morte
animais associados com o comércio de espécies selvagens, e estimativas mais
conservadoras apontam para cada animal comercializado outros três morreram
antes de chegarem ao ponto final de comércio. . Utilizando esta estimativa,
Regueira e Bernard estimaram que cerca de 67.000 indivíduos de papa-capim (Sporophila nigricollis), a espécie mais
comercializada na região de Recife, podem ser removidos da natureza a cada ano
para abastecer os mercados pesquisados.
A pesquisa de
Regueira e Bernard chama atenção para os impactos que os mercados de rua têm na
biodiversidade, muitas vezes ignorando em nível regional. A demanda por aves
cantoras é o principal motor para o comércio ilegal de aves em mercados de rua
em Recife, e em outras áreas no Brasil. Contrariamente às expectativas dos pesquisadores, espécies raras
ou ameaçadas não eram necessariamente as mais caras nessa pesquisa. O preço de
uma ave é determinado por uma combinação de sua aparência física, a beleza e forma,
e melodia de sua canção.
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Foto: Divulgação/Ibama
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“A pesquisa de Regueira e Bernard aponta que o
comércio ilegal de aves gera quantias significativas de dinheiro, podendo
movimentar até mais de R$ 1.200.000,00 anualmente, e tem uma alta e diversa quantidade
de spécies.”
O que mais impressionou os pesquisadores é o fato de que nessa pesquisa observou-se que os vendedores parecem não se preocupar com a possibilidade de fiscalização e punição. Sua maior preocupação é perder seus "bens", o que mostra a ineficiência da fiscalização local, da execução e da ausência de punição aos infratores. A ausência de repressão constante e ativa, somada ao sentimento de impunidade, encorajam os delinquentes a permanecerem neste negócio.
Os pesquisadores apontam que os valores apresentados podem e devem ser refinados, mas eles representam um alerta sobre a magnitude do impacto que os mercados de rua têm sobre a biodiversidade.
O combate à este tipo de atividade passa pela cooperação para um melhor cumprimento da
legislação e ação contra os traficantes e é fundamental a ajuda da população,
denunciando o tráfico ilegal de animais.
DENUNCIE
A
biodiversidade é um dos aspectos mais marcantes do Brasil, e nos faz sermos
reconhecidos mundialmente. É de grande importância a diminuição dos danos
ambientais que nossa biodiversidade vem sofrendo, Precisamos reduzir o
acelerado ritmo atual de ameaça às nossas espécies, tirando-as do risco de
extinção.
Proteja, Preserve, Conserve!
Confira imagens desses mercados estudados pelos
pesquisadores:
Fonte: Wildlife sinks: Quantifying the impact of illegal bird trade in street markets in Brazil (Sumidouros de vida selvagem: quantificação do impacto do comércio ilegal de aves em mercados de rua no Brasil) http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0006320712001152
Referências:
Brasil, 1999. Decreto no. 3.179, de 21 de
setembro de 1999. Dispõe sobre a
especificação das sanções aplicáveis às
condutas e atividades lesivas ao meio
R.F.S. Regueira, E. Bernard / Biological
Conservation 149 (2012) 16–22 21
ambiente, e dá outras providências. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D3179.htm>
(accessed October 2011).
Pereira, G.A., Brito, M.T., 2005.
Diversidade de aves silvestres brasileiras
comercializadas nas feiras livres da
Região Metropolitana do Recife,
Pernambuco. Atualidades Ornitológicas
Online. <http://www.ao.com.br/
download/glauco.pdf>
(accessed October 2011).
Redford, K.H., 1992. The empty forest. Bioscience 42, 412–422.
Rede Nacional de Combate ao Tráfico de
Animais Silvestres (RENCTAS), 2001. 1
Relatório Nacional
sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. RENCTAS, Brasília.
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