segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Descaso com a biodiversidade: o comércio ilegal de aves em Recife - PE e sua gravidade para avifauna brasileira.



Aves são preferidas por cores, canto e pelo valor nos mercados interno e internacional 
(Foto: Arquivo Renctas)


As aves sempre despertaram grande interesse nos seres humanos devido à beleza de suas cores e canto, sendo criadas como animais de estimação pelas populações indígenas desde antes da colonização. No Brasil, muitos animais são negociados em feiras livres, próximos aos locais de captura ou transportados para outros municípios e países. Estudos realizados sobre o tráfico de animais silvestres em todo o país revelaram que as aves representam o grupo mais comercializado entre todos os animais.

As causas do comércio ilegal de animais silvestres estão frequentemente relacionadas em países com alta biodiversidade e desigualdade social. O Brasil se encaixa nessa descrição, sendo um país megadiverso com alta desigualdade social em todas as suas regiões, incluindo as principais cidades de grande porte. Para piorar, o tráfico de animais selvagens não é tipificado na legislação penal brasileira e ninguém pode realmente ser processado por tráfico de animais em si. Nesse caso há aplicações de multas e o seu valor aumenta de acordo com a quantidade de animais presos ou o seu estado de conservação. Mas, na realidade, os promotores tendem a considerar o tráfico de animais selvagens como um crime menor no Brasil, por isso o tempo de prisão (o que raramente acontece) é curto e penalidades são frequentemente substituídas por outras mais suaves, como serviços comunitários. Consequentemente, o comércio ilegal de animais silvestres aparece como uma fonte de lucro fácil no Brasil, uma vez que há uma demanda por esse tipo de "produto" e as autoridades não conseguem reprimir essa atividade.

A área metropolitana de Recife, capital do Estado de Pernambuco, é a área mais populosa do Nordeste do Brasil,  sendo uma rota conhecida do comércio ilegal de animais silvestres no país. Moradores de Recife podem facilmente indicar locais conhecidos com comércio de animais, e geralmente estes locais estão localizados em mercados de rua. Embora essa atividade seja  conhecida na cidade e pontos de comércio são facilmente identificáveis, as iniciativas orientadas para quantificar e qualificar essa atividade na região ainda são raras, resultando em uma falta de informações sobre a real extensão e impacto desta prática.

Em uma pesquisa publicada em abril de 2012 os biólogos Rodrigo Regueira e Enrico Bernard, da Universidade Federal de Pernambuco, mostram os resultados de uma pesquisa sobre o tráfico de aves silvestres em mercados na área de grande Recife e Jaboatão dos Guararapes (Peixinhos, Olinda, Abreu e Lima, Paratibe, Paulista, Linha do Tiro, Recife; Cabo de Santo Agostinho, Cordeiro, Casa Amarela, Madalena,  Cavaleiro e Prazeres). Em 22 visitas a estes mercados, os pesquisadores  observaram um total de 2130 aves à venda, com média de 18 espécies por mercado, variando de 12 a 30.
 

"Algumas das espécies mais evidentes nesse comércio foram, por exemplo, o Canário-da-terra-verdadeiro do qual apresenta uma plumagem amarelada e um canto considerado atrativo para a sua compra. Veja a forte cor e a sua vocalização logo aqui:  http://www.wikiaves.com.br/canario-da-terra-verdadeiro"



Apesar de ser considerado ilegal no Brasil, o comércio de aves é bem evidente  nos mercados de rua de Recife. Os pesquisadores apontam que estas feiras de aves são verdadeiros sumidouros da biodiversidade brasileira, pois estimaram que que até 50.000 aves selvagens podem ser vendidas anualmente nos mercados de rua que foram pesquisados.

Outra questão importante refere-se ao número de animais que morrem neste tipo de comércio. Não existem dados precisos sobre o número de morte animais associados com o comércio de espécies selvagens, e estimativas mais conservadoras apontam para cada animal comercializado outros três morreram antes de chegarem ao ponto final de comércio. . Utilizando esta estimativa, Regueira e Bernard estimaram que cerca de 67.000 indivíduos de papa-capim (Sporophila nigricollis), a espécie mais comercializada na região de Recife, podem ser removidos da natureza a cada ano para abastecer os mercados pesquisados.

A pesquisa de Regueira e Bernard chama atenção para os impactos que os mercados de rua têm na biodiversidade, muitas vezes ignorando em nível regional. A demanda por aves cantoras é o principal motor para o comércio ilegal de aves em mercados de rua em Recife, e em outras áreas no Brasil. Contrariamente às  expectativas dos pesquisadores, espécies raras ou ameaçadas não eram necessariamente as mais caras nessa pesquisa. O preço de uma ave é determinado por uma combinação de sua aparência física, a beleza e forma, e melodia de sua canção.

 

Foto: Divulgação/Ibama
  “A pesquisa de Regueira e Bernard aponta que o comércio ilegal de aves gera quantias significativas de dinheiro, podendo movimentar até mais de R$ 1.200.000,00 anualmente, e tem uma alta e diversa quantidade de spécies.”



O que mais impressionou os pesquisadores é o fato de que nessa pesquisa observou-se que os vendedores parecem não se preocupar com a possibilidade de fiscalização e punição. Sua maior preocupação é perder seus "bens", o que mostra a ineficiência da fiscalização local, da execução e da ausência de punição aos infratores. A ausência de repressão constante e ativa, somada ao sentimento de impunidade, encorajam os delinquentes a permanecerem neste negócio. 

Os pesquisadores apontam que os valores apresentados podem e devem ser refinados, mas eles representam um alerta sobre a magnitude do impacto que os mercados de rua têm sobre a biodiversidade. 

O combate à este tipo de atividade passa pela  cooperação para um melhor cumprimento da legislação e ação contra os traficantes e é fundamental a ajuda da população, denunciando o tráfico ilegal de animais.


DENUNCIE



A biodiversidade é um dos aspectos mais marcantes do Brasil, e nos faz sermos reconhecidos mundialmente. É de grande importância a diminuição dos danos ambientais que nossa biodiversidade vem sofrendo, Precisamos reduzir o acelerado ritmo atual de ameaça às nossas espécies, tirando-as do risco de extinção.

Proteja, Preserve, Conserve!


Confira imagens desses mercados estudados pelos pesquisadores: 


 

Fonte: Wildlife sinks: Quantifying the impact of illegal bird trade in street markets in Brazil (Sumidouros de vida selvagem: quantificação do impacto do comércio ilegal de aves em mercados de rua no Brasil) http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0006320712001152


Referências:

Brasil, 1999. Decreto no. 3.179, de 21 de setembro de 1999. Dispõe sobre a
especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio
R.F.S. Regueira, E. Bernard / Biological Conservation 149 (2012) 16–22 21
ambiente, e dá outras providências. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D3179.htm> (accessed October 2011).

Pereira, G.A., Brito, M.T., 2005. Diversidade de aves silvestres brasileiras
comercializadas nas feiras livres da Região Metropolitana do Recife,
Pernambuco. Atualidades Ornitológicas Online. <http://www.ao.com.br/
download/glauco.pdf> (accessed October 2011).

Redford, K.H., 1992. The empty forest. Bioscience 42, 412–422.

Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), 2001. 1
Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. RENCTAS, Brasília.

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