domingo, 4 de novembro de 2012

O fim das abelhas é o fim do mundo




 
Lázaro Guimarães
Magistrado e professor
jlaz@uol.com.br
Publicação: 4/11/2012 -- Diario de Pernambuco

Numa roda de amigos, Albert Einstein comentou: “Se as abelhas desaparecerem, quantos anos de vida restariam à Terra? Quatro, cinco? Sem abelhas não há polinização e sem polinização não há plantas, nem animais, nem gente”. Quem assim conta é o escritor uruguaio Eduardo Galeano, em Los hijos de los dias, ao dedicar ao Dia da Terra, 22 de abril, um dos seus 365 lúcidos comentários, com a observação: “Os amigos riram. Ele não. E agora acontece que no mundo há cada vez menos abelhas e hoje vale a pena advertir que isso não ocorre por vontade divina, nem maldição diabólica, e sim pelo assassinato dos montes nativos e a proliferação dos bosques industriais, pelas culturas de exportação, que proibem a diversidade da flora, pelos venenos que matam as pragas e ao mesmo tempo a vida natural, pelos fertilizantes químicos, que fertilizam o dinheiro e esterilizam o solo, e pelas radiações de algumas máquinas que a publicidade impõe à sociedade de consumo”.

O pior é que não se trata de figura de retórica. O cientista alemão, criador da teoria da relatividade, teve que mudar de residência várias vezes, refugiando-se na Suíça, na Austrália e, finalmente nos Estados Unidos, onde sofreu constante espionagem dos serviços secretos, tanto quanto os hoje suspeitos de terrorismo, cujas atividades diárias são submetidas a grampeamento sem autorização judicial. As plantas e os homens são reféns de uma civilização que se supõe acima dos deuses e das tradições de civilidade, prudência e compaixão. Dias atrás, a televisão mostrou para o país inteiro um bandido arrastando uma mulher pelos cabelos, até o carro onde estava o seu filho de onze anos. Ante o pedido da mãe para que deixasse o menino sair, o celerado atirou, matando-o. Cenas como essa se tornaram comuns, banalizou-se a crueldade. Que falta fazem as heroinas que enfrentaram os ditadores, como as mães da Praça de Maio, ou aquelas como Mãe Domingas, no Pará, a princesa Aqualtumene, nos Palmares de Alagoas, ou as irmãs Francisca e Mendecha Ferria, em Conceição das Crioulas, Pernambuco, que não se submeteram ao terror promovido pelos senhores de escravos e seus asseclas. Um miserável como aquele não se atreveria a eliminar a criança, pois teria a certeza do castigo implacável.

A crimes como esse todos estamos expostos, nas cidades grandes e agora também nas pequenas, até pouco tempo pacatas. Mas é principalmente no campo que mais avança o risco de devastação das fontes de vida, em razão do contínuo desaparecimento das abelhas, das mariposas, das moscas, vespas, borboletas, dos besouros e das aves. São esses minúsculos animais que permitem, como consta do Wikipedia: “A transferência de células reprodutivas masculinas (núcleos espermáticos) através dos grãos de polém que estão localizados nas anteras de uma flor para o receptor feminino (estigma) de outra flor (da mesma espécie), ou para o seu próprio estigma. Pode-se dizer que a polinização é o ato sexual das plantas e espermatófitas, já que é através deste processo que o gameta masculino pode alcançar o gameta feminino e fecundá-lo”. Toda essa ação milagrosa da natureza é neutralizada pelo desflorestamento, ainda que seguido de plantações com finalidades de exploração agrícola ou pecuária e por outros modos de devastação e contaminação, que constituem uma ameaça muito séria à sobrevivência da humanidade e da vida no nosso planeta.

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